Transplante não aparentado durante a pandemia de Covid-19

Equipe de transplante do Hospital Rio Grande

O transplante não aparentado continua sendo realizado nos centros habilitados por todo o Brasil mesmo com a atual pandemia de Covid-19. Mas, as unidades de saúde precisaram adaptar seus processos para não expor pacientes e doadores ao risco de contrair a doença, além de organizar o fluxo de transplantes e doações para as situações caracterizadas como maior urgência.

Logo no início da pandemia, o REDOME enviou uma pesquisa para todos os centros não aparentados sobre a continuação da realização de transplantes e coletas. A maioria respondeu que continuaria com os serviços e dos que responderam que não poderiam continuar a realizar coleta de doador, alguns informaram a necessidade da disponibilização de leitos ao hospital para internação por Covid-19.

De acordo com o Hospital Rio Grande, com as mudanças de processos, foi preciso rediscutir os casos encaminhados para transplante com a verificação dos que poderiam aguardar; treinar os colaboradores para que conhecessem as medidas de proteção; estabelecer um fluxo seguro dentro do hospital para pacientes, doadores e funcionários e realizar o teste (PCR) para SARS-Cov2 em todos os candidatos a realização de transplante, antes da admissão na unidade. Em relação ao doador voluntário, orientações gerais, como medidas para evitar locais cheios e cuidados redobrados com a higiene, são fornecidas pela equipe.

No momento da doação e coleta de células, segundo Cecília Oliveira, enfermeira coordenadora do transplante de medula óssea no Rio Grande, o importante é garantir a segurança em cada etapa do processo. “Estamos enfrentando um momento de medo dos doadores e dificuldades para conseguir transporte. Para os que moram em estados próximos ao Centro, há a possibilidade do transporte de carro para reduzir os riscos de contágio em aeroporto. Muitos enfrentam a viagem porque o amor ao próximo é maior que o medo e chegam para nós com vários questionamentos. Nós sempre dizemos que eles são verdadeiros heróis”, pontua Cecília.

Um doador de medula óssea, que não pode ter sua identidade revelada por conta da política de sigilo do REDOME, conta como foi sua experiência de deslocamento e doação durante fase de pandemia no país. “A segunda vez que o REDOME entrou em contato comigo já existia a pandemia e meu estado já estava todo fechado com quarentena decretada. Foram explicadas todas as questões do processo de doação e a necessidade de viagem durante a pandemia, assim como o caráter voluntário do processo. A minha maior preocupação foi com as viagens, pois tenho familiares em grupo de risco. Como eu já estava trabalhando de casa, perguntei se ao invés de duas viagens, poderia fazer uma e ficar direto na cidade da doação. O REDOME analisou o meu caso e autorizou. Foi uma experiência em que eu e minha acompanhante trocamos a quarentena de casa pelo quarto do hotel”, conta ele.

Quando questionado sobre questões como solidariedade e sua própria segurança, o doador relatou que sabia que quanto mais tempo de espera para a doação, maior poderia ser o risco para o paciente. “Eu já era doador de sangue e plaquetas, então não tinha muitos receios sobre o processo da doação de medula. O maior receio era sair na rua e a segurança da minha família, mas depois acabei achando que tudo foi muito tranquilo. As regras de segurança eram respeitadas nos aeroportos, todos estavam de máscaras nos voos e o motorista do transporte foi bem consciente com os cuidados de higiene. Quando voltei, tive que ficar em quarentena, mas em resumo, talvez tenha sido mais fácil, para a minha rotina, que a doação tenha acontecido em um momento atípico como este”, comenta o doador.

Apesar dos esforços de toda a equipe do REDOME e do comprometimento dos doadores e das equipes dos centros de transplante, no primeiro quadrimestre deste ano, o registro viabilizou a realização de  103 transplantes (até abril). Este número representa uma redução de 37%, quando comparado ao mesmo período de 2019, em que foram realizados 141 procedimentos.

 

 

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